Escrita no final do século XIX por Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray” retrata as preocupações estéticas da época. Considerada uma das mais intrigantes obras do autor irlandês, a história escandalizou as pessoas de seu tempo, sendo lançada primeiro como um ensaio em uma revista e depois divulgado em 1891 na sua versão completa como conhecemos hoje.
A história se passa em Londres, onde Dorian Gray conhece Lorde Henry através de seu amigo e artista Basil Hallward, quando este o convida o aristocrata para que conhecesse a pintura que estava fazendo do jovem Dorian. Lorde Henry, personagem hedonista e eloquente, encanta Dorian de tal forma que este o deixa levar pelos seus discursos, tornando-se um admirador do lorde.
Induzido pelas palavras de seu novo amigo, Dorian se vê consternado ao perceber que a sua magnífica beleza e juventude para sempre estariam gravadas no quadro, enquanto ele próprio ficaria velho e feio. Dessa forma desejou: “Se eu pudesse ser para sempre moço, se o quadro envelhecesse. (…) Sim, não há nada no mundo que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma.”
Seu desejo se tornou realidade e todas as suas preocupações, anseios, pecados e defeitos passaram a ser espelhados no retrato. Dorian só percebe as novas propriedades da pintura quando a mulher por quem estava apaixonado, a atriz Sybil Vane se mata após ser dispensada pelo jovem. O retrato antes com o rosto exatamente como foi pintado, agora exibia uma expressão maliciosa.
Dorian Gray manteve o retrato escondido em um quarto na sua casa por dezoito anos, enquanto cultivava o vício pelo ópio, se envolvia com prostitutas e estudava perfumes, pedras e religiões sem que ninguém ao seu redor desvendasse o mistério daquele homem que nunca havia deixado de ser jovem e belo.
Tudo muda de figura quanto Basil Hallward, seu velho amigo com quem não falava há muito tempo o procura na noite antes de se mudar para Paris, querendo ver a sua obra-prima por uma última vez. Após deixa-lo ver o retrato, Dorian Gray assassina o artista e chantageia Alan Campbell, seu conhecido, para se livrar do corpo.
Ao perceber a crueldade de seu ato e a vida que tinha levado até então, tomado por um ato de desespero, Dorian então esfaqueia o retrato, na tentativa de destruí-lo, e acaba destruindo a si próprio. O retrato volta a exibir a imagem de Dorian Gray como jovem e ingênuo e seu corpo sem vida adquire os traços maléficos e danificados, reflexos de seus próprios pecados.
Em nossa discussão, achamos que a vaidade e a ganância que envolvia Dorian Gray, principalmente por influência do Lorde Henry retrata a própria visão do autor Oscar Wilde sobre a realidade de sua época e forma como ele próprio era visto pela sociedade.
Essa obra impressinou por ser homoerótica e muitas partes do livro foram usadas contra o próprio Oscar Wilde, que era homosexual e foi preso por isso. Hoje, “O Retrato de Dorian Gray” é considerado um clássico da literatura inglesa e já rendeu um filme, filmado em 1945.
A nossa nota para o livro foi, em média, 9,3, já que algumas partes foram consideradas muito descritivas e cansativas para leitura. Tirando isso, a história é interessante e nos faz refletir sobre os nossas vaidades e defeitos e a maneira como devemos aprender a lidar com eles.
Quem quiser se envolver nos discursos inteligentes e maliciosos de um personagem como Lorde Henry, entender como funciona a mente de um artista platonicamente apaixonado pela figura de sua inspiração ou observar o comportamento de um jovem tomado pelas influências ao seu redor, “O Retrato de Dorian Gray” é o livro certo para se ler.
4 comentários:
Escolha bem interessante. Ao ler a obra não pude deixar de reparar na referência que se faz a Narciso (mitologia), ícone da vaidade. Ao nascer, um adivinho vaticinou que ele teria vida longa, se não contemplasse a si mesmo.
O quadro de Basil, junto à influência de Lorde Henry, levam o jovem Dorian a se contemplar e sucumbir à vaidade. Antes de ter consciência de sua beleza extraordinária, Dorian era diferente.
Também é interessante notar que Sybil Vane representa para Dorian o que a ninfa Eco representa para Narciso. Sua vaidade - e isso inclui a aprovação social de suas escolhas, principalmente por parte de Lorde Henry - o faz rejeitar o amor de Sybil.
"...Um dia, em zombaria infantil de Narciso, beijara, ou fingira beijar, aqueles lábios pintados que ora sorriam tão cruéis para ele" (Cap. VIII, p. 140).
Ressalto, por fim, o diálogo do Cap. XVII, que contém a famosa frase "to define is to limit" ("definir é limitar"). Assim como a personagem se nega a dar uma definição de si, à obra (leia-se, a todas as obras de arte) também não se deve atribuir qualquer rótulo, sob pena de limitá-la.
Abraços!
Concordo com o Bernardo e reafirmo que adorei o livro, em especial os diálogos em que aparece Lord Henry. Seu poder de persuasão é impressionante. Outro aspecto interessante dos diálogos é a capacidade de sintetizar em uma frase vários conceitos e idéias, como essa frase que o Bernardo citou acima "definir é limitar". Parece que o autor consegue resumir aquilo que a gente pensa, mas não consegue exprimir.
Só mais uma coisa: gostaria de indicar o livro "A sombra do vento", de Carlos Ruiz Zafón. Tia Manda me emprestou e estou adorando. É sensível, engraçado, misterioso e inteligente na dose certa!
Beijos.
Gente, um livro que recomendei (do Jorge Amado) acaba de virar filme: “Quincas Berro D’Água” estreia amanhã, 21/05/10. Vale a pena!
Abraços!
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